Sobre as declarações de Passos Coelho, a propósito da morte de Fidel Castro
O fim de Passos Coelho
São conhecidas as minhas divergências políticas com Pedro Passos Coelho.
Também já escrevi sobre alguns companheiros do percurso de Passos Coelho, nomeadamente Miguel Relvas e os negócios em que ambos estiveram envolvidos.
Compreendo, embora discorde, que o Passos Coelho não gosta de Fidel Castro e do projecto da Revolução Cubana. Curiosamente, um deputado da bancada do PSD, José Carlos Barros, tem uma visão completamente distinta. Esta baseia-se na sua experiência, como autarca de Vila Real de Santo António, e na cooperação dessa autarquia com Cuba na área da saúde. Como habitualmente, quando se conhece aquilo de que se fala, fala-se melhor.
Mas voltemos à posição do PSD e de Passos Coelho na Assembleia da República, aquando de voto de pesar sobre Fidel Castro, aprovada na passada semana. O PSD optou pela abstenção e saberá das suas razões para tal posição. O que eu não aceito é que Passos Coelho misture ou justifique a sua posição com a declaração “em 1980 os comunistas e outras gentes de extrema-esquerda, festejaram em Chaves e um pouco por todo o país, a morte de Sá Carneiro”. Falou até em lançamento de foguetes.
Com a expressão “os comunistas em Chaves” designa todos os comunistas em Chaves? E nas “outras gentes de extrema-esquerda” inclui os socialistas?
Naquele ano de 1980 eu já era comunista e vivia em Chaves. Até me recordo de terem rebentado uns foguetes, mas não foram lançados pelos comunistas. Lembro-me até da lamentação e condenação do meu pai, também comunista em Chaves.
Eram tempos conturbados e felizmente que o projecto do PPD e do CDS de fazer eleger Soares Carneiro como Presidente da República falhou. Ramalho Eanes foi reeleito nessa altura para o segundo mandato. A queda da avioneta e a morte dos dirigentes políticos Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa e dos outros acompanhantes, incluindo a digna companheira de Sá Carneiro, Snu Abecassis, foi irrelevante para o resultado eleitoral.
É lamentável que, 36 anos depois, Passos Coelho venha misturar estes temas, sem qualquer relação entre si. Que deliberadamente, ou não, deturpe a verdade.
Passos Coelho está a chegar ao fim do seu ciclo político. Como é costume, começam os abandonos, as conspirações e as traições. É natural, que quem se julga acima dos outros, tenha dificuldade em lidar com o fim. Um fim sem glória e em que o inferno, que ele tanto anunciou, vai ele vivê-lo com os seus ex-amigos do seu Partido.
Manuel Cunha
Membro da Direcção Regional de Vila Real do PCP
Eleito na Assembleia Municipal de Chaves